Hoje eu queria permanecer encolhida, quieta, ouvindo o som da chuva que cai lá fora, enquanto minha mente tenta organizar as peças que não se encaixam na existência. Queria não precisar sentir o extremo de dor e não compreender por que o sinto.
Levantar da cama, ocupar espaços, encontrar pessoas, já não causam prazer, não estou apenas triste, é como se apesar de completo, faltassem diversos pedaços meus e toda essa falta me impede de seguir.
Eu rio, gargalho, dou colo e sou um bom ouvinte, mas do outro lado da história me sinto um filhote que se perdeu da mãe e que está no escuro, com medo, que sente cada partícula do corpo estremecer e diante dos olhos vê a vida esvair, e embora quisesse se agarrar a ela, não existem forças que impulsionem esse toque.
Passo horas olhando pro nada e esse nada que não faz sentido me prende na cama em um completo sentido de exaustão, o telefone toca, batem a porta, e tudo que antes fazia sentido, hoje me faz sentir não pertencente, como se apesar de existir em um universo imenso, não ocupasse sequer um lugar nele.
Sinto-me cansado, não é saudável, não é bonito, não é a vida que sonhei ter.
Eu ainda ocupo os espaços que antes me davam prazer, ainda encontro pessoas, ainda saio de casa, quando tudo que quero é permanecer encolhida longe de qualquer toque estranho, eu reluto, refuto, sobressaio e não desisto, no fundo sei que apesar de viver assim, não é isso que desejo viver e preciso lutar para alcançar um novo espaço, na liberdade de ser quem desejei ser.
Do lado de cá, os sentimentos são extremos, e a luta é diária, então, paciência com quem sente uma gota como tempestade. Paciência com quem se esgota, mas não deixa de caminhar, foi preciso coragem pra chegar aqui.